É muito chato, mas a gente se sente meio errado por ‘sentir’. Toda a saudade, o afeto e a tristeza escondidos pra não parecer tão idiota. “Porque me vale muito mais fingir que estou oco.” A quem? Esse sou mais eu, tão seguro de si, mas e então? Na hora do escuro, da cabeça no travesseiro, quando não dá pra mentir, como é que a gente continua?
Almejando esse poder viver da verdade, esse: “ontem estávamos tão bem, hoje não, e pronto, só isso, meio que sem motivo.” E assim a vida segue, talvez sempre sem razão, como eu. Não é nada demais. Somos só nós sendo nós, não tendo um bom dia, ou uma boa semana, não concluindo o ano muito bem, e tudo o que pedimos é para não ter que fingir gratidão por estarmos vivos, não nos dias em que a gente só sobreviveu.
Admitir que sente falta, que o presente nos consome, mas como reflexo do passado, e não dá pra nos negar em frente ao espelho. Faz falta sim, faz falta o carinho, o afeto, as conversas, faz falta nós mesmos, tudo o que já fomos ou já pudemos ser. E isso não quer dizer querer de volta, ou muitas vezes quer sim, e qual o problema? Por que é que não se pode sentir? Qual o grande erro em admitir que somos como qualquer pessoa e queremos muito o que não podemos e não temos tudo o que queremos? E essas coisas machucam sim, porque somos humanos, não menos que qualquer um. Qual o problema em projetar em voz alta o que a gente tem vontade? Pra que se censurar tanto e se prender numa casca pra parecer mais forte? E quando virmos que já nos perdemos, já perdemos demais, só porque agimos como se fosse ruim ser o que fomos feitos pra ser: nós mesmos. Sem precisar explicar ou coibir.
Mas então a gente se fecha e se enclausura no que relacionamos correto. E o correto é o medo, é se esconder atrás dele, porque tememos deverás o que passa dentro das nossas próprias mentes, e as proporções que isso pode tomar. Temos medo da rejeição, e nos rejeitamos, ignoramos o que somos como ignoramos os sem-teto, passamos por cima, tropeçamos, mas preferimos ser cegos, invés de estender a mão. Fazemos isso todos os dias, eu faço isso. Só quero dizer que é chato demais, que cansa esse teatrinho de “viver”, quando na verdade estamos só procurando uma fuga, um substituto.
Nos limitamos a essa mesmice, mesmo com tanto a dizer. Nunca soubemos nossos limites, porque nunca nos testamos com sinceridade. O ser humano não sabe o quão vasto pode ser, o quão longe pode ir, nem as coisas incríveis que pode fazer, porque prefere se prender ao medíocre. E isso é triste, deixamos para nós a pior das possibilidades. Não nos permitimos ao menos uma vez não precisar explicar pra todo mundo o que somos, porque ficamos perdidos a vida toda nessa ânsia de entender a nós mesmos, quando talvez tudo o que precisemos seja exatamente deixar estar.